09/05/2022
No primeiro dia do ano de 2003, Lula da Silva subiu ao Palácio do Planalto pela primeira vez. O ex-metalúrgico já havia sido derrotado, seguidamente, em três certames eleitoreiros seguidos. Na primeira vez que participou, em 1989, perdeu o pleito, em segundo turno, para o então autodenominado Caçador de Marajás, Collor de Mello. As duas outras, em 1994 e 1998, Lula da Silva foi vencido pelo representante do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) Fernando Cardoso.
Depois de perder três eleições seguidas, o representante do Partido dos Trabalhadores (PT), precisou da votação em segundo turno para derrotar o candidato do PSDB José Serra nas eleições de 2002.
Para atender às expectativas do grande capital internacional, o presidente petista aproximou-se de vários setores que, inicialmente, eram antipáticos à sua eleição.
A partir de articulações políticas esdrúxulas, Lula costurou acordos antes impensados. Essas articulações políticas, possibilitaram ao político nordestino de base sindical se reeleger a um segundo mandato consecutivo. Neste pleito, Lula venceu o peessedebista Geraldo Alckmin, também em segundo turno. Os polêmicos acordos assegurados pela administração lulista garantiram a vitória de Dilma Rousseff, derrotando em segundo turno, novamente o candidato do PSDB José Serra em 2010.
Ainda com a forte presença de Lula, os corredores do Palácio do Planalto, mesmo com divergências explícitas, assistem a manutenção dos complicados acordos. Esses esdrúxulos acordões, garantem a Dilma a reeleição para um segundo mandato consecutivo. A primeira mulher a comandar o executivo federal brasileiro derrotou, em segundo turno, o candidato do PSDB Aécio Neves nas eleições de 2014.
A segunda vitória de Dilma teve um custo muito alto para o PT e para o país.
Toda conjuntura, por ser contingencial, muda sem que haja controle direto para uma adaptação ao novo cenário.
A nova moldura do capital exigiu outros acordos ao PT. O partido, sob comando de Lula e perante a necessidade de reforçar o segundo mandato de Dilma, compactuou com propostas políticas antagônicas. A vice-presidência, do segundo mandato da candidata petista, assim, foi entregue a Michel Temer.
Com apoio do PT, Eduardo Cunha é eleito presidente da Câmara dos Deputados.
O novo contexto econômico e o aprofundamento dos acordos esdrúxulos, entre outros fatores, resultaram na cassação do mandato de Dilma. Michel, que tem no sobrenome o verbo temer, foi conduzido, pelo congresso, a um mandato Tampão em 2016.
Nas eleições de 2018, com Lula preso sob acusação de corrupção, Jair Bolsonaro venceu o petista Fernando Hddad, sendo eleito em segundo turno presidente da república federativa do Brasil.
Hoje, as vésperas das eleições de 2022, a polarização do voto mostra de um lado Lula e do outro Bolsonaro. Isto é, trocando em miúdos bem apodrecidos, em um polo se coloca A volta dos que não foram e no outro O coisa ruim. Se aqueles que não foram se dizem de esquerda e querem a implantação de um amplo processo de reformas do estado capitalista periférico, a milícia de direita defende como bandeira política uma reforma pela privatização aberta e desenfreada do aparato público.
Precisamos recuperar, no cenário político brasileiro, alguns traços da trajetória de Jair, visto que ele é o representante dessa malfadada direita reacionária.
Em matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo, datada de 19 de dezembro de 2002, ano em que Lula se elegeu presidente pela primeira vez, o então capitão da reserva do exército Jair Bolsonaro, quando integrava o Partido Progressista Brasileiro (PPB-RJ), fez lobby pela indicação do deputado do Partido Comunista do Brasil (PC do B) Aldo Rebelo para a pasta do ministério da defesa.
Jair, que diz não por no bolso(naro) nenhum centavo de dinheiro público, mesmo sendo defensor do discurso do ódio, declarou ter votado, nas eleições de 2002, em Ciro Gomes no primeiro turno e em Lula no segundo.
Bolso(naro), quando ainda não tinha seu nome como alternativa pela extrema direita, não raro defendia e apoiava posições e projetos encabeçados pelo PT. Em 12 de março de 1999, ele elogiou o discurso da Deputada Luiza Erundina do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL): “Aproveito a oportunidade para, de público, agradecer a Vsa. Exa, deputada Luiza Erundina, pelo que já fez pela classe militar das Forças Armadas enquanto esteve à frente da administração. Tenha a certeza de que não nos esquecemos […]. Na vida pública, precisamos de gente como V. Exa., que olha para todos como brasileiros, independente de estarem fardados ou não […]”.
A moldura que a mídia apresenta aos brasileiros é que o voto é obrigatório. “Não há outra solução!”, bradam aos quatro cantos do país que, por sua vez, ecoa o coro uníssono da democracia burguesa em versão globalizada. Isso quer dizer que é preciso escolher entre um e outro candidato, ou ainda em uma tal terceira via.
O que se considera terceira via é algo que não cabe aqui discutir, uma vez que sua maior novidade é a mesmice.
Bem, sendo assim, temos uma eleição com a seguinte opção: votar no coisa ruim atual, ou no menos ruim que quer voltar de onde tentou nunca sair.
Mas há ingredientes novos. Talvez a exposição desses elementos possa ajudar nossos eleitores a decidirem a não votar.
Lula da Silva, quando subiu ao Palácio do Planalto para o primeiro mandato, declarou que governaria sob uma herança maldita. Referia-se ao PSDB, partido que, representado por Fernando Cardoso, derrotou o petista por duas vezes seguidas.
Mas agora, para configurar A volta dos que não foram, o PT se alia a Geraldo Alkmin, representante em estado puro da dita herança maldita.
Se correr o bicho pega se ficar o bicho come! Diria minha vó, se estivesse viva!
Votar no coisa ruim, que prefere a morte à vida, ou trazer de volta os que nunca foram?
Os representantes da volta dos que nunca foram, são os mesmos que pediram apoio do coisa ruim para derrotar a herança maldita. Foi, não se enganem, o plano de nunca sair do poder, implementada sob a coordenação de Lula, que acabou por alimentar O coisa ruim quando este ainda era um projeto de mandatário a serviço da direita reacionária tupiniquim.
O projeto reformista encabeçado pelo PT e sob orientação de Lula, pavimentou a estrada por onde nasceu, circulou e proliferou O coisa ruim. Pena de morte, violência contra os mais fracos, racismo, machismo, entre muitas outras demandas que A volta dos que não foram empurraram para debaixo do tapete da história, SERVIRAM DE ALIMENTO PARA A FORTIFICAÇÃO do representante miliciano.
Hoje, a ideia que criou O coisa ruim é, dialeticamente, alimentada por ela.
A união da volta dos que não foram com a herança maldita, não tem como eliminar a raiz que materializa e cria, no cotidiano concreto, a atrasada ideia que põe uma milícia no comando executivo do país.
As eleições de 2022, por sua estrutura reformista, apenas podem manter o que não presta, dar retorno a quem nunca se ausentou, e no limite de suas contradições, criar outro coisa ruim, quem sabe pior?